A fenomenologia, originada como um movimento filosófico no início do século XX pelo filósofo alemão Edmund Husserl, procura apreender a essência das experiências como elas se apresentam à consciência, abstendo-se de qualquer preconceito ou conceito prévio. Este meticuloso estudo da experiência vívida é um pilar para entender as Constelações Sistêmicas Familiares, realizado pelo terapeuta alemão Bert Hellinger muitos anos depois. Vamos nos aprofundar detalhadamente no que isso significa, e como essas duas áreas se conectam de maneira significativa.
A ESSÊNCIA DA FENOMENOLOGIA
Para começar, a fenomenologia não se preocupa com o que é “real” no sentido objetivo, mas sim com como as coisas aparecem para a consciência individual. É essencialmente o estudo de características: as coisas como elas são percebidas pelas pessoas, não como elas podem existir independente da percepção humana. Husserl acreditava que para entender essas experiências, uma pessoa deveria ter uma época, uma suspensão do julgamento sobre a existência do mundo exterior para concentrar-se unicamente na experiência vívida.
O SURGIMENTO DAS CONSTELAÇÕES FAMILIARES
Bert Hellinger, na segunda metade do século XX, criou um método terapêutico que se alinha de certa forma com os pressupostos fenomenológicos. As Constelações Sistêmicas Familiares são uma forma de terapia que busca revelar dinâmicas ocultas dentro de uma família que podem estar afetando a saúde emocional ou psicológica de um indivíduo. O trabalho de Hellinger é profundamente ancorado na observação de que “é” sem tentar encaixar a experiência dentro de teorias ou expectativas previstas.
AS CONEXÕES ENTRE FENOMENOLOGIA E CONSTELAÇÕES FAMILIARES
Intuição e Experiência: Tanto a fenomenologia quanto as Constelações Familiares valorizam a intuição e a experiência imediata. Para os fenomenologistas, uma riqueza de preferências só pode ser percebida quando nos aproximamos deles sem preconceitos. Em uma Constelação Familiar, facilitadores e participantes são encorajados a colocar de lado as narrativas pré-estabelecidas para que as dinâmicas familiares possam emergir de forma própria.
A Época e o Representante: Em uma Constelação, os indivíduos representam membros da família do cliente e são instruídos a se mover e agir conforme sentir impulso, um processo que reflete a época fenomenológica. Os representantes são encorajados a colocar de lado suas histórias e opiniões para se tornarem canais puramente receptivos da experiência.
A Essência das Relações: A fenomenologia busca capturar a essência das coisas, enquanto a Constelação busca revelar a essência das relações e como elas impactam o indivíduo. Ambas buscam uma verdade mais profunda que transcende a superfície das aparências e narrativas comuns.
Revelação do Escondido: A fenomenologia se esforça para fazer o invisível se tornar visível através da consciência, enquanto nas Constelações Familiares, os movimentos e interações dos representantes muitas vezes trazem à tona dinâmicas e traumas familiares ocultos.
PRÁTICA TERAPÊUTICA E FILOSOFIA
As Constelações Sistêmicas Familiares, embora não sejam uma prática fenomenológica percebem, conjuntamente com a fenomenologia, um compromisso com o que é diretamente vivenciado e revelado na consciência presente. O terapeuta sistêmico, como o fenomenologista, coloca entre parênteses suas teorias e conceitos para permitir que as coisas se revelem como são.
CONCLUSÃO
A fenomenologia e as Constelações Sistêmicas Familiares de Bert Hellinger são duas formas de investigação que buscam extrair a verdade subjacente às camadas de percepção e interpretação. Enquanto uma se situa no reino da filosofia pura, a outra opera no campo da terapia e cura, ambos se apoiam nas crenças de que a clave para compreender e resolver questões profundas reside na experiência imediata e na observação cuidadosa do que se apresenta aqui e agora. Juntas, elas oferecem uma perspectiva poderosa sobre a compreensão humana e o potencial para transformação e cura intergeracional.