Um artigo sobre Constelações Sistêmicas Familiares e a congruência com a Filosofia e a Psicologia
As Constelações Sistêmicas, concebidas pelo alemão Bert Hellinger, surgiram como um método terapêutico distinto que se baseia nas dinâmicas invisíveis dentro das famílias que influenciam os padrões de comportamento e as atitudes de seus membros por gerações. Este artigo visa esboçar o substrato filosófico e psicológico que forma a espinha dorsal das Constelações Sistêmicas, oferecendo assim uma visão aprofundada desse fascinante e, às vezes, controverso campo da terapia familiar.
FILOSOFIA NAS CONSTELAÇÕES SISTÊMICAS
O trabalho de Bert Hellinger é profundamente influenciado por uma gama de tradições filosóficas. A fenomenologia, em especial a de Edmund Husserl e Martin Heidegger, tem papel fundamental nas Constelações. Esta filosofia, com seu foco na experiência imediata e na ‘coisa-em-si’, ajuda a explicar como Hellinger encorajou os indivíduos a observar e aceitar a realidade tal como é, sem os filtros das expectativas ou preconceitos pessoais.
Adicionalmente, existe uma forte influência da filosofia existencialista, que enfatiza a responsabilidade pessoal e a busca pelo significado em um mundo que é, por vezes, absurdo e arbitrário. As constelações promovem a ideia de que somos livres para escolher e ressignificar nossas vidas, apesar de estarmos enredados em destinos e dinâmicas familiares pré-existentes e muitas vezes inconscientes.
PSICOLOGIA E O PANORAMA DE HELLINGER
Ao lado das ricas fontes filosóficas, as Constelações Sistêmicas também mergulham profundamente nas águas da psicologia, particularmente na terapia familiar sistêmica e na psicanálise. A ideia de que o indivíduo não pode ser compreendido isoladamente, mas somente como parte de uma rede de relações, é um empréstimo direto da psicologia sistêmica. Hellinger expandiu isso ao enfatizar como ‘ordens do amor’, uma série de princípios que regem as interações e posições familiares, tal como a necessidade de pertencimento, equilíbrio entre o dar e receber, e a precedência dos mais antigos sobre os mais jovens.
Da psicanálise, as Constelações Sistêmicas emprestam a ideia do inconsciente familiar, um depósito coletivo de memórias, traumas e padrões de comportamento herdados das gerações anteriores. O trabalho de Hellinger sugere que os indivíduos podem estar agindo sob a influência de eventos familiares passados que eles nunca vivenciaram diretamente, uma noção reminiscente da reprodução compulsória descrita por Freud.
A INTEGRAÇÃO SINÉRGICA
A integração dessas duas disciplinas —filosofia e psicologia— dentro das Constelações Sistêmicas de Hellinger cria uma abordagem terapêutica que é ao mesmo tempo introspectiva e expansiva, individual e coletiva. É introspectiva na medida em que convida a pessoa a olhar para dentro, para suas próprias experiências e percepções, e é expansiva porque amplia essa investigação para a totalidade de seu contexto familiar e ancestral.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
As Constelações Sistêmicas Familiares ocupam, portanto, um lugar singular na intersecção de terapia, filosofia e psicologia. O olhar de Hellinger sobre as relações humanas e as dinâmicas transgeracionais oferece uma perspectiva que move indivíduos e terapeutas a investigar a profundidade das conexões nossas com nossos sistemas familiares. Enquanto campo de intervenção, as Constelações fornecem uma lente poderosa para a compreensão de si em relação ao coletivo, ancorada numa tradição que é tanto filosófica quanto psicologicamente rica.